Vale a pena


Quase tudo o que discutimos acerca da Verdade de Deus tem a ver com os temas das angustias dos judeus em relação aos discípulos de Jesus e dos discípulos em relação ao judaísmo; fosse porque alguns, sendo judeus, julgassem de tempo em tempo que a ruptura criada pelo Evangelho era radical demais; fosse porque grupos de judeus os perseguissem tentando dissuadi-los de continuarem no Caminho; fosse porque os temas dos judeus não tivessem saído de todo nem do mais liberto de todos os apóstolos, provavelmente Paulo.

Assim, por exemplo, a Epístola aos Hebreus, que para mim é uma peça de verdade/beleza extraordinária sob todos os aspectos, que nos propõe a Superioridade de Jesus sobre toda e qualquer Sombra/Religião ou meio humano de buscar Deus, que não seja por meio da fé em Jesus — viaja sobre o chão das questões dos Hebreus/Judeus [...]; e tão somente nos introduz ao tema de Melquizedeque, Rei de Justiça e Paz, em razão de que a questão judaica era: Como Jesus, não sendo da Tribo de Levi, pode ser Sumo-Sacerdote, com poderes divinos/legais de mudar as Leis, fazendo de Si Mesmo a Realização de tudo o que para os nossos antepassados era toda a vida e cultura deles?...

Então o escritor de Hebreus viaja sobre o chão da história dos Hebreus/Judeus, a fim de mostrar pelas Escrituras [que eram o material final de autenticação de qualquer revelação para eles] que a ordem Levítica nunca foi nada além de uma ordem sacerdotal relativa, de ofertas relativas, de cerimônias relativas; posto que a tribo de Levi fosse de descentes de Abraão, sendo, porém, que o próprio Patriarca, nos seus dias, reconheceu um Sacerdote/Rei, Melquizedeque, como sendo alguém que conhecia o mesmo Deus que ele conhecia; mas o próprio Abraão reconheceu que esse Alguém representava algo maior do que aquilo que, por Abraão, estava sendo instaurado na Terra.

Ou seja: o escritor de Hebreus nos diz que havia uma Ordem Sacerdotal em Melquizedeque, que transcendia Abraão, e que o Cristo [Messias] seria, de acordo com Davi, nos Salmos, Alguém que pertenceria à Ordem de Melquizedeque — realidade essa que, para os leitores originais da Epístola [todos Hebreus/Judeus], vinha carregada de um poder fundado na própria Escritura; que, para eles, tinha sentido bíblico e cultural; posto que aquilo que em Hebreus demanda uma Epístola, Pedro resumiu na casa de Cornélio [que não tinha questões “judaico/cristãs”], simplesmente dizendo que “em qualquer nação, qualquer um que tema a Deus e faça o que lhe seja agradável, esse é aceito; pois para com Deus não há acepção de pessoas”.

Eu só falo na Ordem de Melquizedeque para quem chega com questões judaico/cristãs... Ou seja: para os cristãos... Sim, pois fora os cristãos, excluindo hoje em dia boa parte dos judeus, ninguém na terra precisa saber de Melquizedeque, se Melquizedeque era apenas uma resposta do Evangelho a um “problema” oriundo das crenças judaicas...

Ou seja: Melquizedeque continua a ser a resposta do Evangelho contra o Cristianismo como arianismo salvacionista [como foi contra o judaísmo étnico, cultural e legal]; por cuja noção se passou a ensinar que quem não seja cristão está perdido [...]; ou já tenha nascido sem acesso ao Cristianismo porque Deus mesmo os fez nascer nas culturas e geografias inacessíveis.

Entretanto, se o nível da estupidez não for esse, creia, não falo da Ordem de Melquizedeque, mas apenas digo o que Pedro disse na casa de Cornélio, a saber: Que em qualquer povo, tribo, língua e nação, onde quer que haja corações que amem a paz, o amor, a justiça, a verdade e vivam com esperança e bondade, aí Deus está presente, mesmo que não se Lhe saiba o Nome; posto que para com Deus o que importa é a verdade do e no coração, e não a afirmação histórico/cultural do nome de Deus, posto que Deus não tenha que se explicar ao mundo em termos judaicos.

Jesus [e Sua Boa Nova] é o único Nome a ser falado pelos discípulos, e isso quando a vida já criou o significado do Evangelho para aqueles que porventura passem a ser os nossos ouvintes...

No mais, quanto mais limpo de “problemas” de natureza “judaico/cristã” ficar o Evangelho em nossa boca, melhor será para quem não tem tais problemas.

O “problema” do Cristianismo sempre foi, entre outras coisas, impor “problemas” onde tais “problemas” não existem como “questão”...

No dia que entendermos mesmo que Deus é amor, nesse dia o Evangelho fluirá de nós como Rio de Água Viva, sem nenhum tipo de judaísmo ou cristianismo a lhe poluírem os derramar das águas...

Deus não é amor segundo a Ordem de Melquizedeque, mas sim a Ordem de Melquizedeque é uma Ordem de Sacerdócio de amor universal apenas porque Deus é amor...

Sim, existe na Escritura judaico/cristã a alusão a tal Ordem [...] apenas para que a partir dela [da Escritura], e por causa deles [dos judeus e cristãos], se possa dizer ao mundo todo que Jesus é o Senhor de todos; e que fez e faz cobertura de pecados por todos; ou melhor: que o mundo todo está reconciliado com Deus por meio de Jesus; ou ainda: que Jesus garante que a morte ficou menor do que Sua Graça em favor de todos os homens...

É simples assim!...

Nele, que É,

Caio
Novembro de 2009