Pensei que eu já tinha visto um time jogar bola… Não tinha ainda. Vi,  domingo, dia 18 de dezembro de 2011.


Só agora entendi o que nossos pais querem dizer ao se referir aos tão saudosos tempos do Santos de Pelé e seu esquadrão. Eu, nascido três anos depois da conquista de 70 no México, só fui ver um show nos gramados quando testemunhei muito menino a seleção de 1982. Depois disso, como todos os brasileiros, me acostumei a chamar de “futebol-arte” umas gingadas pra cá, umas pedaladas pra lá, uns showzinhos particulares de uns pés iluminados, e que tão rápidos correram para o rico esporte europeu.


Domingo, entretanto, eu vi o Barcelona jogar.


O Barcelona é uma empresa. Seus clientes são exigentes. Não aceitam menos do que um espetáculo. E quem quer conquistar o mercado do entretenimento mundial tem sim que buscar excelência em tudo que faz, planeja, semeia e colhe, pela força do mérito e não da sorte. Os empresários da bola descobriram o que um dia antropólogos vão tentar explicar: A gente é simplesmente doido por uma linda partida de futebol. Não sei o que acontece com a alma humana… O futebol é nossa arena e os jogadores, nossos gladiadores. Nossos times são nossa representação, nossa síntese, nossa forma de demonstrar paixão… E no Brasil isso ultrapassa o limite da compreensão.


Mas agora já posso dizer que eu vi um time jogar de verdade…


Só me resta voltar a “quase-me-divertir” com os torneios nacionais e latino-americanos, onde a mediocridade, a indolência, a sacanagem, a bandidagem e a politicagem IMPERAM sem nenhuma voz a se levantar pra denunciar essa MÁFIA ao redor dos campos. Voltarei também a admirar dentro do campo a nossa famosa cultura do jeitinho, da catimba, do “juiz-sempre-ladrão”, do “recuar-para-jogar-no-contra-ataque” depois de fazer “meio-gol”. Voltarei a toda essa preguiça de atletas cansados que ganham milhões e ainda assim têm a cara de pau de forçar o segundo cartão para não viajar com o time no domingo de balada. Voltarei a essa novelinha-das-seis  que a TV e toda a mídia dá um jeito de ficar emocionante para quem sofre muito e se contenta com pouco.



É, mais nunca esquecerei… Domingo de manhã descobri o que é um time de verdade.


Amante do futebol, nunca esquecerei…


A ufanista seleção brasileira seria massacrada pelo Barcelona. Porque a “seleção” é a mais concreta evidência dessa ZONA, dessa ganância atrapalhada que mistura dinheiro privado com coisa pública e prepara a COPA DOS SUPERFATURAMENTOS, a política de caixa 2 que caracteriza nossos períodos eleitorais TODOS!


Já o SANTOS… Ora, NÃO É DO SANTOS QUE ESTOU FALANDO. O Santos foi quem nos permitiu assistir a isso tudo quando venceu o Brasileirão que o levou à Libertadores, e venceu os latinos todos, levando ainda seu Regional no meio do caminho, tendo sido então catapultado a essa final privilegiada. Foi o Santos quem nos levou à Tóquio, à sala de aula, pra tomar umas boas surras na bunda! Na bunda de santistas, mas também de corinthianos, palmeirenses, flamenguistas, gremistas, comentaristas, cartolas e todos os brasileiros…


O Santos? O Santos não tem nada a ver com minha reflexão. O Santos é o que temos de menos pior!


Coloca o Neymar dentro da estrutura que o Messi tem ao redor de si e todos saberão que ninguém é “o melhor jogador do mundo” sozinho. Quem sabe, vestindo a camisa do Messi, nosso jovenzinho moicano faria coisas ainda nunca vistas, impensáveis aos nossos olhos…


Minha questão, desse modo, é outra: Somos nós… Nós somos soberbos demais para futebol de menos.


E nosso atual futebol é só reflexo da cultura da qual a gente idiotamente se orgulha: A cultura do “deixa como está para ver como que fica”; a prática do nivelamento por baixo que domina nossas escolas, universidades, empresas, ONGs, publicações, ações sociais, políticas e quase TUDO o mais nesse país.


Acorda gente!


Alguém viu o Barcelona dar chutão, “chuverinho” pro nada, bola rifada pro meio do campo?


Alguém viu algum “espanhol” comemorar que conseguiu proteger a bola até que ela saísse por escanteio? (e a torcida aqui ainda vibra com isso!!!). Alguém viu o Barcelona recuar todo o time depois do primeiro gol? Viram algum jogador cansado? Não perceberam os caras tentando tirar a bola da mão do Rafael quando o jogo já estava em seu final? (Aliás, se não fosse o Rafael…)


Alguém viu o Messi “provocar” a falta? Viram-no se jogar dentro da área feito ator de cinema sem ninguém ter lhe tocado?


Não perceberam quantas e quantas vezes ele poderia ter caído? Mas será que a torcida do Barcelona se contenta com bola parada perto da área porque falta coisa melhor para fazer em campo?


Enquanto você está pensando que estou nos ridicularizando, veja como somos ridículos mesmo: nos nossos campos, quando um de nossos times está ganhando de “quase 1 x 0”, nossos melhores jogadores sofrem uma “quase-falta” e ficam “quase-mortos” estrebuchando na grama, em dramáticos giros e convulsões. Aí param o jogo, brigam os demais, o juiz autoriza a entrada do carrinho, os paramédicos recolhem o lesado, o carrinho se move lento para fora do campo, os comentaristas até fingem que estão preocupados, e então, o cidadão cruza as linhas laterais, levanta “quase-mancando”, solicita sua reentrada imediata em jogo, já quase pulando, e volta como se nada tivesse acontecido… Meu Deus! A gente acha que isso é um espetáculo? Só se for de teatro! Se toda vez toda a torcida vaiasse o pilantra queria ver se algum desses “heróis” continuaria a fazer a cena de sempre…


Nós temos orgulho da malandragem. O cara só tá errado se for do time adversário!


A gente é assim…


Aí, no encontro com a EXCELÊNCIA no Japão, fica essa postura brasileira toda subserviente, afetada, psicologicamente submissa, reverente demais para quem queria ser campeão. O Santos em campo parecia o adolescente que encontrou com seu ídolo – seus personagens de games de futebol – e, emocionado, subiu no palco para pedir autógrafos e abraços, cortejando gente de seu próprio tamanho.


No domingo, o Santos encontrou com o futuro. Tomara que tenha encontrado o seu próprio.


Tomara também que o Brasil ex-país do futebol aprenda a lição. Eu, sinceramente, não acredito. Tem que mudar todo um povo e sua corja de “políticos, covardes, estupradores e ladrões”… tanto os da esquina como os que roubam grandes somas sob o teto do Congresso Nacional! Todo mundo quer ganhar fácil nesse país-que-não-é-sério… Não é sério!


Bom…


Mas de minha parte – e o motivo que escrevo é só para desafiar você a fazer o mesmo – vou em 2012 procurar semear com muito trabalho e dignidade, aceitando perder no meio do caminho para ganhar no final, um dia, quando chegar a hora, quando eu estiver preparado, sem rezas, mandingas, choro nem vela. Minha obrigação como pai, marido e profissional é investir, treinar, me dedicar, plantar as melhores atitudes, regar os melhores hábitos, buscar o melhor gerenciamento de meus problemas.


No mais, de GRAÇA só tenho o Amor de Deus. O resto é mérito, conquista, peleja, suor e lágrimas…!


Em 2012, vou procurar voltar com amor para casa e com toda garra para o trabalho… Com “sangue-nos-olhos sim (!), mas sem pisar em ninguém; sem desrespeitar quem quer que seja, mas sem ter medo de nada; sem achar que ser o melhor possa ser um golpe de sorte, e ao mesmo tempo, sem comemorar as derrotas alheias como se elas fossem aplainar as trilhas das minhas vitórias.


Em 2012, desafio você a se barcelonizar!


Pra cima deles, meu irmão!


Feliz Ano Novo a todos.


Marcelo Quintela