A vida cheia de Graça. 

Nisto conhecemos o Amor: que Cristo deu a Sua vida por nós; e devemos dar nossa vida pelos irmãos.

Primeira Carta de João 3:16

A Graça, todavia, não é apenas algo para se crer, mas, sobretudo, algo para se viver. Assim, não apenas somos salvos pela Graça, mas também para uma vida de Graça, que se manifesta como uma existência na qual a consciência do perdão gera um espírito de misericórdia em relação ao próximo. E isso tudo fundado numa percepção apenas: aqueles que receberam Graça, esses são filhos dela, e praticam-na como amor e misericórdia.

Veja a Parábola do Credor Incompassivo, descrita no Evangelho segundo Mateus 18, e você vai perceber como a base de tudo é uma só: como fui perdoado de Graça, devo também em Graça perdoar, pois o Espírito da Graça me leva a fazê-lo.

Não somos salvos pelas obras, para que ninguém se glorie, mas somos salvos para boas obras, e isso para a glória de Deus. Desse modo, a Graça gera uma vida cheia de obras que nada mais são do que frutos naturais dela mesma. A Graça é a semente e as obras são o fruto; e esse fruto é Amor; do qual todas as demais virtudes derivam.

Daí, podemos afirmar que a fé em Jesus é a fé no amor.
Amor de Deus por nós. Fé na possibilidade do amor de nós pelos outros. E fé que vem da certeza que nos é dada por Jesus, a Palavra Encarnada, de que o amor vence até mesmo a morte, e gera ressurreição de mortos.

A Bíblia fala de muitos chamados “atributos” divinos. Ela diz: Teu Deus é Deus de Justiça. Ou então: Ó Israel, teu Deus é Santo. Ou ainda: Teu Deus é Misericordioso. No entanto, em todas essas “definições” fica claro que em Deus há também aquele “atributo”, em- bora tal atributo não confine o ser de Deus. Todavia, somente em João, já nas suas correspondências finais, se diz: Deus é amor.

Desse modo, caminhando do complexo para o simples, João chegou àquela uma só coisa que Jesus disse que é a “equação” de um só elemento essencial à vida: Amor. Por isso, quem ensina o Amor de Deus ensina tudo; afinal, Jesus disse que o resto é conversa para erguer os meninos, em sua dureza de coração e sua trágica vocação suicida, incapazes de escolher o caminho excelente, que é amor.

Tal entendimento, sobre nós derramado, só se mantém se esse Entendimento for praticado, visto que é somente pela prática que as coisas se enraízam em nós, que somos caídos e destreinados para o bem.

Nada nos põe neste caminho do amor se a pessoa não receber:

1. Uma revelação da Graça no coração, e a acolher para si, dando razão a Deus, admitindo que dela necessita. Isso pode acontecer de modo tranquilo, via reflexão espiritual.

2. Ou, então, possivelmente levar uma grande “cacetada” da vida como disciplina, tendo, assim, de conhecer o perdão sem autojustificação ou justiça própria. Então, o indivíduo, caso não se endureça, aprenderá o significado do Dogma do Amor; e isso porque terá de prová-lo como perdão de Deus para a sua vida.

Depois disso, a fim de não se tornar um “Credor Incompassivo”, terá, ele mesmo, de aprender a perdoar o próximo e a jamais buscar maquinar nada contra ele; visto que é no exercício do perdão que o amor se faz exercitar no coração humano. Do contrário, para esses que nunca conheceram o amor de Deus e nunca acharam que “precisaram” de Graça (pobres coitados!), a não-experiência da Graça será morte-em-vida; sim, uma existência de zumbis comportamentais da religião, da moral ou da libertinagem.

Assim, seja mediante a revelação/descoberta que ilumina o entendimento ou pela via do “tranco”, da correção e da santa disciplina de um Deus de Amor, que faz intervenções na nossa história pessoal, a única realidade que nos pode salvar de nos tornarmos estátuas falantes é a rendição à Graça, o que é sinônimo de rendição ao amor de Deus.

Muitos me escrevem buscando soluções para suas dificuldades de amor e conciliação. Eu, porém, sou apenas mais um irmão andando e aprendendo, no caminho, o que seja o Caminho sobremodo excelente do amor. Assim, não é um especialista quem fala, mas apenas um homem que também quer ser maduro em seu amor.

Aliás, quem acha que já é maduro no amor? Ora, este tal está morrendo e não sabe, visto que o amor jamais acaba também no que tem a nos ensinar!

Caio.